terça-feira, 9 de julho de 2013

O Malho (1924)

A revista comemora a pacificação no Rio Grande do Sul. O retorno do general Setembrino de Carvalho, responsável pela pacificação, é comemorado na capital federal. A revista registra todos os eventos, festas e jantares prestados em homenagem ao “Pacificador” do Rio Grande do Sul.



O Malho, 05/01/1924 - Acervo Biblioteca Nacional
 

Mas o governo de Arthur Bernardes continua sendo sacudido por revoltas, desta vez em São Paulo. Esta revolta faz parte dos chamados movimentos tenentistas - rebeliões praticadas por jovens oficiais do Exército que não estavam satisfeitos com a situação política do país -  que sacudiram a Primeira República no Brasil.

Liderada pelo General Isidoro Lopes, e contanto com a participação de vários tenentes, os revoltosos tinham o objetivo de destituir Arthur Bernardes da presidência. Este foi o maior conflito bélico ocorrido na cidade de São Paulo. A sede do governo foi bombardeada e o governador do estado obrigado a fugir para o interior. O presidente Arthur Bernardes, organizou seu exército legalista e bombardeou São Paulo com seus aviões. 


A revista dá grande destaque à rebelião militar no estado com reportagens repletas de fotos que mostram a destruição de alguns pontos da capital paulista, principalmente dos prédios públicos, causada pelos conflitos entre as tropas rebeldes e as do governo. Os levantes militares são vistos como anti-patriotas e um empecilho à estabilidade política do país, impedindo o presidente de governar com tranqüilidade e encaminhar o país rumo a um desenvolvimento satisfatório.


O Malho, 09/08/1924. Acervo Biblioteca Nacional
 
 
O Malho, 09/08/1924. Acervo Biblioteca Nacional
 
 
O Malho, 09/08/1924. Acervo Biblioteca Nacional
 
 
Outro tema tratado pela revista ao longo do ano é o processo eleitoral do país, quando critica as fraudes eleitorais, o constrangimento e coerção de eleitores, vitória dos aliados do governo. Na edição nº 1.131 de 17/05/1924 a revista publica um artigo na qual analisa as eleições presidenciais na França e a compara com as eleições brasileiras.
 
Sobre as eleições e funcionamento da política brasileira
 
 
“A propósito das eleições... na França, alguns diários da nossa imprensa não resistiram ao velho methodo comparativo, accentuando que, lá, venceram as opposições contra o governo do Sr. Poiconré, cujo chefe se viu na dura contingência de apresentar seu pedido de demissão.
 
Um d’esses diários chegou a prefeição de encabeçar as noticias telegraphicas com o titulo – Onde se respeita a soberania das urnas – ao lado deste outro que se referia ao caso do Distrito Federal no Senado – Onde não se respeita a soberania das urnas!
 
– O contraste era realmente flagrante; mas um philosopho qualquer de botequim explicava-o e justificava-o mais ou menos nestes termos:
 
- A França é a nossa mãe! O seu organismo está naturalmente gasto pela idade. Precisa de excitações...Vencem as opposições...E’ a therapeutica feliz da Providencia.
 
O Brasil é um filho cheio de vida, excitado naturalmente por um sol tropical. Precisa de calmantes... Vence o governo em toda a linha...
 
E’ a feliz therapeutica da Providencia...”
 
E na edição nº 1.137 do dia 28/07/1924, volta a comentar sobre o assunto.
 
A propósito da solução do problema presidencial na França, não se esqueceram os nossos jornaes de tecer elogios costumeiros, pondo nas pontas da lua o processo de eleição indirecta que permite a substituição do primeiro magistrado, sem os abalos motivados pelo suffragio popular.
Nós também, acompanhamos o ‘terço’ e, cada vez mais, estamos convencidos de que a eleição presidencial devia ser feita pelo Congresso. E’ mais lógico e mais consentâneo com o nosso estado de paiz em que o analphabetismo attinge a msi de 80 por cento...
Mas se pudéssemos ser ouvidos iríamos directamente ao fim, propondo que na projectada revisão da Constituição se incluísse a eleição indirecta do presidente da Republica.
Poupava-se muito trabalho, muita despeza, e dava-se por bem e abertamente ao Congresso aquillo que elle faz hypocritamente, saltando por cima de todos os obstáculos e eximindo-se á responsabilidade que lhe devia caber...”.
 
 
Em relação aos índios, temos um concurso de contos promovido por uma empresa fabricante de um tingidor de roupas chamado Tintol. Neste concurso, o candidato deve  registrar/contar uma história sobre as origens do produto. Um dos contos recebidos é publicado juntamente com uma imagem relacionada à história (abaixo). Neste, o autor estabelece uma relação entre a eficácia e qualidade do produto e a sabedoria tradicional dos índios: os indígenas brasileiros são especialistas na obtenção de cores vivas extraídas diretamente de elementos da natureza; o Tintol, o produto financiador do concurso, também faz o mesmo, só que de forma artificial.
 
O Malho, 19/01/1924. Acervo Biblioteca Nacional.
 
 
Segue abaixo, a reprodução do conto que concorria ao concurso do Tintol.


O TROPHEU DOS NHAMBIQUARAS



O trecho da carta que vae ler, revela-nos a extraordinária intelligencia dos nossos índios.

Meu caro Jorge – Não me causou surpresa tua pergunta. Já sabia que aquelle capacete de bugre, encerrado no meu custoso relicário, ia aguçar-te a curiosidade. Lastimei não me encontrares em casa, pois teria explicado o que te pareceu tão mysterioso. Deves te recordar da missão que há 23 annos me levou aos sertões de Matto Grosso, não é exato ? Pois, data dahi a desventura de ter tido como prisioneira a formosa Yara, filha do cacique Tapyr, cuja tribu puzemos em debandada depois de um sangrento combate. Digo desventura, porque essa índia, com sua simplicidade e extraordinária beleza, despertou de tal maneira meus sentimentos afectivos, que já o meu medico descobriu nisso a causa de todos os meus males...

Deixei-a nas selvas com o firme propósito de tornar e trazel-a - quem sabe? – para minha esposa. Voltei, porem, nunca mais pude encontral-a !

Passemos, entretanto, meu bom amigo, ao que me valeu o tropheu que admiraste. Para conseguir a paz com os selvicolas, mandei Yara em liberdade, depois de havel-a tratado com carinho e maximo respeito.

Dois dias depois recebia um enviado de seu pae, convidando-me a ir receber dele e de toda a tribu, a paga da sua gratidão por lhes ter restituído sã e salva a linda “princeza”.

Tinha portanto vingado o meu plano e no dia aprazado la estava com meus homens, em meio de enthusiastica manifestação de regosijo. Na madrugada esplendida daquella noite, que seguiu toda de festa, ao partirmos, Yara, ante toda a tribu,confessava-me o seu amor e mimoseava-me com o cocar que viste, pedindo-me, para felicidade sua, eu “ficasse!”. Quer saber agora o meu amigo o que me disse essa adorável índia ao entregar-me esse penacho? Eil-o: “Meu amigo, filho de outras terras! És bom porque poupaste a vida à tua prisioneira indefesa e por Tupã, a quem adoro, eu te agradeço. Deves partir e não tenho direito de reter-te, embora te queira para mim sosinha. Levas o coração da tua Yara e com elle quero que leves também este cocar, que é o symbolo da nossa raça, porque nas cores destas penas está toda nossa Pátria: o verde é a nossa matta, que da sombra; o amarelo nosso sol, que dá vida; o encarnado o fogo sagrado de Anhangá; o azul é o céu que cobre a nossa terra e o preto a nossa noite silenciosa.... Pertenceu este cocar aos nossos antepassados e estas cores nunca se alteraram, assim como não se alteraram as tradições dos Nhambiquaras! Adeus! Vae. Vae e dize ao teu povo que a belleza e segurança destas cores, assim como de todas a demais que existem neste mundo, só podem ser obtidas por dois modos: da Natureza, como o foram, na viva coloração destas pennas, arrancadas ás mais bellas aves do Brasil; e do Tintol, o maravilhoso producto dos Srs. M. Gonçalves & C., a cujo esforço devem as moças da cidade o brilho e o colorido das suas vestes encantadoras.” - Antonio




Mesmo sendo uma história imaginada, podemos perceber elementos presentes no imaginário nacional a respeito dos indígenas e a permanência de alguns aspectos do romantismo: a entrada dos desbravadores pelo sertão, suas relações conflituosas com os habitantes nativos e logo depois, a conquista da confiança por parte dos índios em relação aos estrangeiros e a história de amor entre o branco e a bela índia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário