domingo, 30 de junho de 2013

Resenha "Observando o Islã"

Resenha de livro

GEERTZ, Clifford. Observando o Islã. O desenvolvimento religioso no Marrocos e na Indonésia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
 


          
       
              Clifford Geertz é um dos antropólogos norte-americanos mais conhecidos e prestigiados da atualidade. Foi professor honorário na Escola de Ciências Sociais do Instituto para Estudos Avançados em Princeton, da qual foi um dos membros fundadores em 1970. Formou-se em filosofia e estudos literários na Antioch College (1950) e doutorou-se em antropologia em Harvard (1956). Lecionou na Universidade da Califórnia, Berkeley (1958-70) e na Universidade de Chicago (1960-1970) e foi professor visitante em diversas universidades e centros de pesquisa.

Entre sua extensa produção, podemos destacar A religião de Java (1960), Peddlers and Princes (1963), Agricultural Involution: the process of ecological change in Indonesia (1964), Observando o Islã (1968), A interpretação das culturas (1973) e Nova luz sobre a Antropologia (2001). Dos temas antropológicos trabalhados por ele se destacam o estudo da religião, o desenvolvimento econômico, o comércio, as estruturas políticas tradicionais, a família e modos de vida rurais.

   O livro Observando o Islã é resultado de suas investigações etnográficas no sudeste asiático e no norte da África. Neste, o autor explicita o processo de islamização do Marrocos e da Indonésia, buscando ao mesmo tempo, as convergências e as divergências destas experiências. A história religiosa dos dois países é compreendida a partir do entendimento da religião como um fenômeno cultural, psicológico e social. Neste sentido, encontramos já neste texto algumas referências às idéias propostas pelo autor no livro A interpretação das culturas, publicado cinco anos depois, em 1973. Este foi o livro do autor mais traduzido no mundo e aquele onde ele tornou explícita a abordagem semiótica da cultura e o papel central da "descrição densa" etnográfica, isto é, a decodificação do código cultural. A dimensão simbólica é vista por Geertz como um elemento fundamental para o entendimento do que seja cultura.  
 
          Localizados no período do pós-guerra e de descolonização das possessões européias na África e na Ásia, os dois livros – Observando o islã e A interpretação das culturas - podem ser incluídos em um conjunto de obras que procuram responder a uma demanda social: o questionamento de uma linha evolutiva da humanidade que resultava numa hierarquização de culturas e a busca pela valorização de uma diversidade cultural.
           A idéia central de Observando o islã é apresentar o processo de islamização em dois países que estão nos limites extremos do mundo muçulmano: o Marrocos e a Indonésia. Com os dois exemplos, o autor pretende mostrar como a especificidade de cada sociedade e de cada cultura foi capaz de produzir formas diferenciadas de pertencimento à religião islâmica, reforçando a idéia de que “tipos particulares de fé (...) florescem em tipos particulares de sociedades (...)”.
         Outro ponto importante diz respeito às transformações sofridas pelo islã no seu processo de expansão nos dois países, na qual foi sendo adaptado às condições sociais, políticas, econômicas e culturais de cada sociedade. Neste sentido, se o islã pode ser um elemento de identidade para marroquinos e indonésios – ser muçulmano – as especificidades desta mesma religião contribui também como um elemento constitutivo da diferença entre estes povos – ser marroquino e ser indonésio. A fim de estabelecer um estudo comparado entre os processos de conversão ao islamismo no Marrocos e na Indonésia, o autor faz no primeiro capítulo, uma contextualização da chegada e do desenvolvimento do islã nos dois países. Intitulado “Dois países, duas culturas”, Geertz historiciza o processo de expansão do islã em terras marroquinas e indonésias.   
 
          O Marrocos, o país muçulmano mais antigo, teve seu primeiro contato com o islã no século VII e um século depois as suas bases já estavam estabelecidas. O período de formação do Marrocos como nação e do seu credo religioso constituiu-se num processo ímpar no qual as periferias tribais civilizaram o centro agrícola. O aumento do contraste entre a sociedade urbana e rural não impediu que as duas se influenciassem mutuamente, já que as mesmas viviam um mesmo sistema cultural. Tanto em uma quanto na outra, as coisas giravam em torno do caráter e da reputação espiritual. Disseminado através da conquista, o islamismo marroquino veio incorporar aos longo dos séculos uma marcada pressão rumo ao perfeccionismo religioso e moral, uma determinação persistente para estabelecer um credo canônico e uniforme. O islã no Marrocos tornou-se assim, o "islã da adoração aos santos e da severidade moral, do poder mágico e da devoção agressiva.
           Já o islamismo indonésio é exatamente o contrário: adaptativo, absorvente, pragmático e gradual. Isto porque a civilização indonésia foi fundada sobre uma economia camponesa e de origem indiana. Na Indonésia, o islã chegou pelo mar, através do comércio e introduzido nas bases do estado hindu-budista guiados pelas teorias hindus de verdade cósmica e de virtude metafísica. Ao longo do tempo, o islã indonésio assumiu formas diversas conforme as circunstâncias políticas, sociais e econômicas, sendo mais maleável, enquanto que no Marrocos ele foi uma força poderosa rumo à homogeneização.
      Em seu segundo capítulo, “Os estilos clássicos”, Geertz traça o desenvolvimento e caracteriza a natureza do que ele chama de estilos religiosos clássicos no Marrocos e na Indonésia através da ilustração de duas histórias que foram, de certo modo, responsáveis pela islamização de seus países: a do príncipe javanês do século XVI, Kalidjaga, e a de um erudito berbere do século XVII, que foi transformado num importante santo marroquino, Lyusi.

      O primeiro, Sinan Kalidjaga, é considerado como aquele que introduziu o islã em Java e que sozinho, sem necessitar recorrer à força, converteu a população ao novo credo. Filho de um alto funcionário real de Madjapahit, Sinan viveu em um período ou “tempo de desordem”, quando a civilização hinduística se dissolvia e a islâmica estava em formação. Visto como símbolo, Kalidjaga é percebido como aquele que une a Java hinduísta à Java muçulmana; aquele que une duas civilizações, duas épocas históricas e duas grandes religiões: o hinduismo-budismo de Madjapahit e o islamismo de Mataram. 

A sua conversão nos mostra que ele tornara-se muçulmano sem nunca ter visto o Alcorão, visto que, segundo a lenda, por ordem de um dos nove santos de Java chamado Sunan Bonang, Kalidjaga fica quase 40 anos à beira do rio esperando ser contemplado pelo conhecimento espiritual do santo. 

     O outro personagem que Geertz utiliza para contrapor Kalidjaga é Sidi Lahsen Lyusi. Segundo a lenda criada pelo próprio, seu pai era descendente não só dos árabes quanto de Idris II, fundador de Fez e descendente do profeta Maomé, conhecido como xerife. Tal qual Kalidjaga, Lyusi viveu em um período de reorganização da sociedade, destruída por levantes políticos e religiosos. Nesse período, o Marrocos se dividiu em pequenos estados centrados em santos de todas as espécies, os quais foram chamados de estados marabúticos. É neste contexto que se insere Lyusi, que aos 20 anos saiu do isolamento de sua montanha natal e galgou uma trajetória lendária de peregrino, passando por rebelde e chegando a santo.

     Em sua peregrinação, a sua santidade é colocada à prova em dois momentos: o primeiro quando ele foi discípulo do xeque sufi Ahmed bem Nasir al-Dar’i e, contrariando todas as expectativas, foi o único que se dispôs a lavar as vestes do mestre que se encontrava enfermo e beber a água suja. Deste modo, todos souberam que ele não era um homem comum e que tinha o que os marroquinos chamavam de baraka, uma espécie de poder natural que só os santos ou marabús possuíam.       
                                                                                
                  O segundo momento refere-se ao seu enfrentamento com o sultão Akbar Malay Ismayl bem’Ali. A lenda diz que Lyusi foi expulso da cidade por repreender Ismayl pelo tratamento que dava aos trabalhadores que erguiam um muro. Se instalou nas dependências do cemitério e foi repreendido pessoalmente pelo sultão que, cego de fúria, tentou matá-lo. O sultão não conseguiu matar o santo devido ao poder que este tinha e teve que emitir um decreto real no qual o reconhecia como xerife. Este título implicava também no reconhecimento da sua descendência do Profeta e seu direito a honrarias, privilégios e respeito apropriado. Quando da sua morte, foi transformado em syydi, um homem cujo corpo desenvolveu-se um culto devocional.
 
     A partir da comparação entre esses dois personagens é possível pensar na diferença entre os dois modelos de islamização. Na Indonésia ela se caracteriza por um elitismo, introspecção, paciência e dissolução radical da individualidade, características relacionadas ao hinduísmo. No Marrocos, caracteriza-se como fervor, ousadia, moralismo, ativismo e intensificação radical da individualidade. Além disso, as duas narrativas explicitam as formas de consciência religiosa existente em cada região que lutaram para se afirmarem em frente aos desafios sociais e políticos à sua continuidade. Mas “assim como a tradição hinduísta não se dissolveu em face da islamização na Indonésia, tampouco se dissolveu a visão miraculosa da santidade diante da concepção genealógica no Marrocos". Neste sentido, tradição e novidade se conjugaram e criaram algo novo.
          
         No  capítulo seguinte, “O interlúdio dos seguidores das escrituras”, Geertz demonstra a mudança do islã no Marrocos e na Indonésia a partir de três desenvolvimentos que causaram impactos importantes nas duas culturas: a experiência colonial, a influência do islã escolástico e a construção do Estado-Nação. No caso da experiência colonial, a identidade muçulmana não se apresenta apenas como um sentido religioso, mas também político. Isto porque a experiência colonial possibilitou a criação de uma situação política ímpar no qual a distinção entre governante e governado tornou-se mais do que uma diferença de poder: tornou-se uma diferença de identidade cultural. Deste modo, o colonialismo criou condições para o nascimento de um islã de oposição e também como elemento preservador de uma identidade que se contrapunha ao colonizador.

    Geertz procura também demonstrar as mudanças religiosas na Indonésia e no Marrocos, destacando a diferença dos estilos religiosos clássicos conhecidos como iluminacionismo, no caso marroquino, e marabutismo, no caso indonésio, que estão sendo atacados pelo secularismo e pelo que ele chama de “escrituralismo”. Na Indonésia, este movimento em direção ao islã das escrituras e não ao islã do transe ou do milagre, foi associado com a palavra santri, que em javanês significa “estudante religioso”. Ele se desenvolveu desde o período colonial, mas foi no século XIX que ele cristalizou um discurso que denunciava como ímpio não só o domínio holandês, mas o hinduismo da pequena nobreza e o sincretismo camponês. No início do XX, o santrismo estava estabelecido como ideologia religiosa dissidente e como rebelião política encaminhando-se para um purismo radical e sem concessões.

     Já no Marrocos, apesar de seguir a mesma direção do movimento indonésio, o movimento diferenciou-se pela sua tradição em estudos islâmicos e, principalmente pelo árabe ser o idioma nativo da maioria da população. Deste modo, a cultura árabe teve um importante papel no sentido de defesa das escrituras no Marrocos, o que não acontecia na Indonésia, pois ossantris que entoavam o Alcorão somente o compreendiam a partir de resumos e anotações em vernáculo explicado por professores. Estes por sua vez só tinham um conhecimento básico do original.

   Tanto na Indonésia quanto no Marrocos, o prólogo ao nacionalismo coincidiu com o epílogo do escrituralismo. Neste sentido, as transições políticas enfrentadas pelos governantes Sukarno e Mohamed V são exemplos utilizados por Geertz para apresentar a constituição dos Estados-nação marroquino e indonésio e sua relação com a religião islâmica. 
  
      A atuação no sultão no processo de independência do Marrocos do domínio francês contribuiu muito para a construção da sua imagem como símbolo da resistência ao colonialismo. Assim, a monarquia reuniu os princípios básicos da organização política e religiosa do Marrocos. A liderança política do Marrocos pós-independência é reafirmada pela tradição do santo guerreiro. O líder-herói da revolução estava imbuído não só de uma autoridade política, mas também de uma autoridade religiosa, o que contribuiu para a criação de uma monarquia marabútica após a independência. No caso indonésio, a ascensão do primeiro presidente eleito após a independência, Sukarno, trazia consigo a tradição hinduísta e com ele assistiu-se a reafirmação do Estado-teatro, cujas festas, celebrações e monumentos procuravam espelhar a grandeza da nação.
 
 No último capítulo intitulado, “A luta pelo real”, o autor faz uma apologia à uma antropologia simbólica, defendendo o estudo das religiões como aquele que pode dar sentido à experiência. Assim, Geertz marca uma mudança na antropologia moderna acerca da discussão sobre cultura e, principalmente da religião como parte desta mesma cultura. O autor ressalta ainda que os padrões religiosos discutidos por ele possuem dois aspectos: são molduras da percepção no qual a experiência é interpretada e constituem orientações para conduta. Sendo assim, o iluminacionismo indonésio retrata a realidade como uma hierarquia teatral que projeta um estilo de vida que celebra um equilíbrio mental enquanto que o marabutismo marroquino retrata a realidade em torno de homens individuais e projeta um estilo de vida que enfatiza a moral.

De forma geral, Geertz expõe a idéia de que a cultura engloba um conjunto de códigos e símbolos que são compartilhados por um determinado grupo e que se faz necessário por parte do antropólogo “traduzir” esses códigos de modo a torná-los compreensíveis. A tarefa da interpretação está no fato de que o importante não é o que se pensa sobre o outro, mas sim o que o outro pensa sobre si mesmo e de que forma interpreta e entende o mundo. Outro elemento importante é entender a especificidade de cada cultura e também compreende-las como algo fluido, que está sempre em transformação. Nestes sentido, a importância e atualidade do livro Observando o islã estão na necessidade de problematizar não só a experiência colonial como também a expansão do islamismo. A partir do momento em que se entende que os mesmos não foram movimentos únicos, pode-se perceber que os resultados advindos destas experiências foram muito diversificados. 




sábado, 29 de junho de 2013

Jornada de Estudos Históricos do PPGHIS/2011

No ano de 2011, quando era mestranda na UFRJ, participei da Jornada de Estudos Históricos do PPGHIS. A Jornada tem por finalidade favorecer o debate entre os mestrandos e doutorandos do Programa a respeito das pesquisas em desenvolvimento.
Naquele ano, o encontro recebeu o nome do Professor Manuel Salgado, docente do programa falecido recentemente.
 
 
Ao contrário dos anos anteriores, os trabalhos apresentados na Jornada não foram publicados. Disponibilizo então, para quem tiver interesse, o artigo que preparei para o encontro.
 
 


terça-feira, 11 de junho de 2013

Projeto Rondon: a construção do Brasil e a causa indígena


Rondon na sequência do documentário Parimã | Luiz Thomaz Reis/Museu do índio/Funai
 
 
Logo após a conclusão da minha Graduação, tive a oportunidade de trabalhar em um projeto de pesquisa chamado Projeto Memória. O projeto é uma iniciativa da Fundação Banco do Brasil, que procura resgatar a memória cultural do país através de personagens que, de alguma maneira, contribuíram para a transformação social e cultural da sociedade brasileira.
 
Dentro desta prosposta, o Projeto Memória produziu vídeos documentários, livros fotobiográficos, sites, exposições e materiais pedagógicos sobre Castro Alves, Oswaldo Cruz, Carlos Drummond de Andrade, Nísia Floresta, entre outros.
 
O projeto na qual participei em 2009, produziu os mesmos materiais citados acima sobre Candido Mariano da Silva Rondon. Intitulado Rondon: a construção do Brasil e a causa indígena, ele foi realizado em parceria com o Museu do Índio.

A construção da figura mítica e histórica do Marechal Rondon, como a explicitada no título do projeto - personagem que tem sua importância por ser um indivíduo que contribuiu para "construção do Brasil" - é uma questão que merece ser problematizada. Tarefa que gostaria e que me proponho a realizar em outro momento e  assim que for possível. O que gostaria de ressaltar aqui, além de apresentar o material resultante deste trabalho, é a existência e importância do acervo fotográfico do Serviço de Registro Audiovisual do Museu do Índio para nós, historiadores.

Minha tarefa principal foi a de identificar cerca 2.000 fotos do acervo audiovisual do Museu catalogadas como Comissão RondonEsta documentação fotográfica foi produzida pela Comissão Rondon no período entre 1900 e 1922, durante as várias  expedições formadas para instalar linhas telegráficas no interior do Brasil sob a chefia do militar. As fotografias são de autoria de diversos militares que participaram da Comissão como  Alberto Brand, José Louro, Luiz Leduc, Oscar Pires, Joaquim de Moura Quineau, Luiz Thomaz Reis, Emanuel S. do Amarante e Benjamin Rondon (filho do Marechal Rondon), entre outros.

Além da instalação das linhas telegráficas, a Comissão desenvolvia outras atividades: levantamento geográfico e topográfico, da fauna, flora, mineralogia, climatologia, etnografia e pacificação dos índios. O registro das expedições realizadas pela Comissão era de extrema importância para Rondon, pois ajudava a divulgar suas atividades e também convencer os apoiadores da importância e da continuidade dos trabalhos.

Como coloquei, minha tarefa era a de identificar diversas fotos deste acervo com o objetivo de ajudar na seleção das imagens que fariam parte do livro fotobiográfico. Para tanto, era preciso identificar não apenas os autores e data/ano de produção da imagem como também quem ou o que elas retratavam. Algumas dessas imagens já haviam sido identificadas para uma posterior organização na base de dados do museu. Mas a grande maioria estava sem nenhuma identificação. Ao fim do trabalho, grande parte das imagens foram total ou parcialmente identificadas (algumas, infelizmente, permaneceram sem identificação). Muitas dessas imagens fazem referências aos Postos Indígenas criados durante a gestão do SPI (Serviço de Proteção aos Índios).

Conheço apenas um trabalho acadêmico que tem como fonte as imagens produzidas pela Comissão Rondon (se existem outros, por favor, me avisem): o livro A imagética da Comissão Rondon: etnografias filmicas estratégicas, de autoria do antropólogo e fotógrafo Fernando de Tacca. Originalmente, uma tese de doutorado em antropologia, a obra analisa a produção imagética da Comissão Rondon como a construção de uma imagem "oficial" do índio e formando uma etnografia visual sustentada na concepção de imagem-conceito do índio.

O que eu gostaria de reivindicar é a apropriação/utilização deste acervo, bastante desconhecido, pelos historiadores. As imagens estão lá, guardadas, esperando que alguém as explore, as utilize como fonte na composição do conhecimento histórico. Alguém se habilita?


Para conhecer os resultados do Projeto Rondon, clique aqui.

Para saber mais sobre o Projeto Memória, clique aqui.

Referência bibliográfica: TACCA, Fernando de. A imagética da Comissão Rondon: etnografias filmicas estratégicas. Campinas: Papirus, 2001.

domingo, 9 de junho de 2013

Iniciação Científica. O pesquisador em formação

 


A seção A História do Historiador da Revista de História da Biblioteca Nacional me trouxe uma boa surpresa na edição do mês de janeiro/2013. Versando sobre a importância da experiência de pesquisa para os alunos da Graduação, o artigo de autoria de Eunícia Fernandes, minha professora e orientadora de Iniciação Científica na PUC RIO, apresenta as experiências vivenciadas por mim e minhas companheiras de Iniciação Científica.

A leitura do artigo me fez reviver nossas divertidas reuniões semanais de pesquisa. Divertidas, sim, pois quem disse que reuniões e encontros acadêmicos precisam ser marcados pela sisudez? Na ocasião, eu e mais duas colegas graduandas, Ana Toledo e Isabela Masini, participavamos do projeto Representações de índios. Repertórios para a nacionalidade na nova ordem republicana, sob a orientação da Prof. Dra. Eunícia Fernandes.

Poder participar de um projeto de pesquisa foi uma das melhores experiências que tive durante a Graduação em História. Mais ainda, de ter participado de um grupo que tinha sob sua orientação uma profissional de História que tem muito claro qual é o papel da iniciação científica na formação de um graduando:  o orientando não é um mero auxiliar de pesquisa. Ele deve ser tratado como um investigador, mesmo que iniciante, e deve ser formado não para "seguir os passos" de seu orientador, mas para ir sempre além de si mesmo.

Não podemos negar que as influências teóricas, metodológicas e técnicas de pesquisa do orientador acabam por se fazerem presentes na vida de quem passa pela experiência da iniciação científica. É muito claro para mim que o campo historiográfico pela qual me interessei, a História Indígena, e a linha teórica na qual me embaso foram/são fortemente influenciadas pela minha outrora orientadora. 

Mas estas influências foram se constituindo de forma natural, sem imposições. Mais importante do que as heranças temáticas e teóricas deixadas por esta experiência e pela orientação que recebi, foi a sensação de estar sendo guiada pelas mãos da minha orientadora pelos segredos da arte de bem pesquisar, de bem expressar, construindo aos poucos uma condição autônoma, deixando aos poucos de ser tutelada para "falar com a própria boca". 

O que posso deixar registrado desta experiência é que ele foi um caminho fecundo que me credenciou a dar novos e promissores passos rumo à pós-gradução. A experiência do Mestrado foi uma difícil e árdua tarefa de caminhar sozinha, seguindo meus próprios passos, me constituindo de forma autônoma como historiadora. Mas este caminho começou bem antes, lá atrás ainda na Graduação, quando de forma inconsciente, uma historiadora começava a se constituir enquanto tal.

 

Para ler o artigo da RHBN na íntegra, clique aqui.