quarta-feira, 17 de julho de 2013

XXVII Simpósio Nacional de História - Anpuh

 


Este ano, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) sediará o XXVII Simpósio Nacional de História. Organizado pela Associação Nacional de História - ANPUH - o evento acontece a cada dois anos e é o maior e mais importante evento na área de história do país e também da América Latina.
 
A temática do simpósio será “Conhecimento histórico e diálogo social”, escolhida em função da necessidade, cada dia mais evidente, de a academia estabelecer formas de diálogo com a sociedade. Portanto, todo o evento está sendo pensado no sentido de favorecer reflexões, propostas e tomadas de decisões que evidenciem ações na formação dos profissionais de História para suas atuações nos vários espaços do meio da pesquisa e do ensino.

Assim como nos anos anteriores, estarei presente ao evento participando do Simpósio Temático 11 - A presença indígena na história do Brasil - que tem como coordenadores John Manuel Monteiro (in memorian), Maria Aparecida de  Araújo Barreto Ribas (Doutor(a) - Universidade Estadual de Maringá), Maria Regina Celestino de Almeida (Doutor(a) - UFF).

Por este motivo, o blog dará uma parada nas postagens sobre O Malho. Tudo o que for observado durante o evento, tanto em relação aos trabalhos apresentados no Simpósio Temático quanto em relação às conferências,  será assunto de um ou mais posts no nosso blog.

Quem quiser saber mais sobre esse importante evento, pode acessar o site do Simpósio. É só clicar aqui.

Até a volta!

domingo, 14 de julho de 2013

O Malho (1925)

No ano de 1925, O Malho começa-se a fazer cogitações a respeito da sucessão presidencial. O que existe desde o início do ano são sugestões de nomes, quem seria mais adequado ou não para exercer o cargo. A partir dos meses de Julho/Agosto, passa-se a cogitar o nome de Washington Luís, o que irá se confirmar no ano seguinte quando as eleições estiverem mais próximas.
 

O Malho, 25/04/1925. Acervo Biblioteca Nacional
 
 
A revista começa a fazer um balanço do governo de Arthur Bernardes, elogiando a firmeza do presidente no exercício do seu governo. Aprova a decisão do presidente em exercer o governo em estado de sítio devido às revoltas tenentistas. Apesar de considerar que o país não pode se desenvolver nestes anos de mandato, a revista presta  muitos elogios ao presidente, até mesmo por considerar que ele não pode colocar em prática uma política de desenvolvimento nacional por causas das disputas políticas internas.
 
Outro ponto abordado pela revista e que se repetirá através de artigos e charges nos anos seguintes é a discussão a respeito da liberação do voto feminino. A revista se mostra inteiramente contra o foto feminino utilizando argumentos como a incapacidade da mulher para exercer cargos políticos, devido à sua natureza frágil e delicada, assim como a ideia de que o papel da mulher na sociedade é cuidar da casa e dos filhos, se preocupar com assuntos considerados fúteis pelo mundo masculino, como moda, beleza, etc. Um artigo publicado na seção Politic´ações, em 24 de Julho de 1925, faz menção ao assunto.

 
A questão do voto feminino
O voto às mulheres, em que pese a douta opinião do Sr. Juvenal Lamartine e de D. Bertha Lutz, continua a não fazer muitos adeptos entre os latinos. Agora mesmo a Itália, pela sua luzida Câmara dos Deputados, rejeitou-o na recente reforma eleitoral mandada votar pelo terrível Mussolini.
Entre nós, ainda nos fins do anno passado, o Sr. Basílio Magalhães renovou-lhe a propugnação na casa legislativa a que pertence. Mas logo ao dia seguinte, as enquetes realizadas sobre a palpitante questão, revelavam que a maioria dos nossos legisladores, pela boca do prestigioso leader mineiro, Sr. Bueno Brandão, ainda não acha oportuno permitir, no Brasil, que as mulheres votem ou sejam votadas.
Também a nossa opinião é essa.
Os costumes, as leis de um povo, embora optimos, não podem, nem devem ser transplantados ou copiados para outro, sem possibilidade de adaptação natural. Nenhum paiz força impunemente o próprio povo a institutos e usanças que sua índole e seu meio não comportam. Olhem a implantação do regimem republicano entre nós assim como a liberalidade da nossa Magna Carta, os bellos fructos que tem produzido !
Imaginemos, agora, a somma nova de vergonheiras e desgostos que nos adviria, inevitavelmente, nesta época, da concessão do voto às mulheres. Amanhã, D. Bertha Lutz, moça de merecimentos indiscutíveis e incontestados, iria disputar uma eleição. Seria eleita fatalmente, em pleito livre. Mas a sua concorrente teria sido, Mlle. X, noiva do filho do prefeito da localidade.
Qual a sorte de D. Bertha, na verificação de poderes ?
Tenham a palavra os barbados que sabem o que é uma “degola” ...”

O esporte sempre esteve presente nas páginas de O Malho. As partidas de futebol realizadas aos finais de semana entre os diversos clubes cariocas e paulistas sempre mereceram destaque com muitas fotos. Além de vermos nossos atuais times atuando naquela época, o interessante nessas fotos é observar o público que ia aos estádios, como eles iam vestidos de uma maneira completamente diferente da atual, bem mais despojado e descontraído.

O Malho, 02/05/1925. Acervo Biblioteca Nacional


O Malho, 16/05/1925. Acervo Biblioteca Nacional.



O destaque do futebol neste ano de 1925 foi uma partida internacional entre o time Paulistano e a seleção da França, realizada em Paris. O time brasileiro ganhou a partida com um placar de 7 a 2. Os jogadores brasileiros retornaram ao país com fama de heróis.


O Malho, 11/04/1925. Acervo Biblioteca Nacional

O Malho, 09/05/1925. Acervo Biblioteca Nacional.


Outro destaque no ano de 1925 é a visita de Albert Einstein ao Brasil. A visita ao país fazia parte de uma série de viagens que ele realizou a vários lugares, como Japão, Palestina, Estados Unidos e América do Sul. Aqui, o físico alemão fez palestras, visitou o Museu Nacional, o Instituto Oswaldo Cruz, o Observatório Nacional e fez vários passeios turísticos pela cidade. 

O Malho, 16/05/1925. Acervo Biblioteca Nacional.

 
A respeito do nosso objeto de pesquisa, o que se pode observar, na sua maioria, é a utilização da imagem do índio para representar o Brasil. Além desta, também vemos a utilização da imagem do índio como um elemento para desqualificar ações políticas, como na charge abaixo.

 
O Malho, 16/05/1925. Acervo Biblioteca Nacional.
  

terça-feira, 9 de julho de 2013

O Malho (1924)

A revista comemora a pacificação no Rio Grande do Sul. O retorno do general Setembrino de Carvalho, responsável pela pacificação, é comemorado na capital federal. A revista registra todos os eventos, festas e jantares prestados em homenagem ao “Pacificador” do Rio Grande do Sul.



O Malho, 05/01/1924 - Acervo Biblioteca Nacional
 

Mas o governo de Arthur Bernardes continua sendo sacudido por revoltas, desta vez em São Paulo. Esta revolta faz parte dos chamados movimentos tenentistas - rebeliões praticadas por jovens oficiais do Exército que não estavam satisfeitos com a situação política do país -  que sacudiram a Primeira República no Brasil.

Liderada pelo General Isidoro Lopes, e contanto com a participação de vários tenentes, os revoltosos tinham o objetivo de destituir Arthur Bernardes da presidência. Este foi o maior conflito bélico ocorrido na cidade de São Paulo. A sede do governo foi bombardeada e o governador do estado obrigado a fugir para o interior. O presidente Arthur Bernardes, organizou seu exército legalista e bombardeou São Paulo com seus aviões. 


A revista dá grande destaque à rebelião militar no estado com reportagens repletas de fotos que mostram a destruição de alguns pontos da capital paulista, principalmente dos prédios públicos, causada pelos conflitos entre as tropas rebeldes e as do governo. Os levantes militares são vistos como anti-patriotas e um empecilho à estabilidade política do país, impedindo o presidente de governar com tranqüilidade e encaminhar o país rumo a um desenvolvimento satisfatório.


O Malho, 09/08/1924. Acervo Biblioteca Nacional
 
 
O Malho, 09/08/1924. Acervo Biblioteca Nacional
 
 
O Malho, 09/08/1924. Acervo Biblioteca Nacional
 
 
Outro tema tratado pela revista ao longo do ano é o processo eleitoral do país, quando critica as fraudes eleitorais, o constrangimento e coerção de eleitores, vitória dos aliados do governo. Na edição nº 1.131 de 17/05/1924 a revista publica um artigo na qual analisa as eleições presidenciais na França e a compara com as eleições brasileiras.
 
Sobre as eleições e funcionamento da política brasileira
 
 
“A propósito das eleições... na França, alguns diários da nossa imprensa não resistiram ao velho methodo comparativo, accentuando que, lá, venceram as opposições contra o governo do Sr. Poiconré, cujo chefe se viu na dura contingência de apresentar seu pedido de demissão.
 
Um d’esses diários chegou a prefeição de encabeçar as noticias telegraphicas com o titulo – Onde se respeita a soberania das urnas – ao lado deste outro que se referia ao caso do Distrito Federal no Senado – Onde não se respeita a soberania das urnas!
 
– O contraste era realmente flagrante; mas um philosopho qualquer de botequim explicava-o e justificava-o mais ou menos nestes termos:
 
- A França é a nossa mãe! O seu organismo está naturalmente gasto pela idade. Precisa de excitações...Vencem as opposições...E’ a therapeutica feliz da Providencia.
 
O Brasil é um filho cheio de vida, excitado naturalmente por um sol tropical. Precisa de calmantes... Vence o governo em toda a linha...
 
E’ a feliz therapeutica da Providencia...”
 
E na edição nº 1.137 do dia 28/07/1924, volta a comentar sobre o assunto.
 
A propósito da solução do problema presidencial na França, não se esqueceram os nossos jornaes de tecer elogios costumeiros, pondo nas pontas da lua o processo de eleição indirecta que permite a substituição do primeiro magistrado, sem os abalos motivados pelo suffragio popular.
Nós também, acompanhamos o ‘terço’ e, cada vez mais, estamos convencidos de que a eleição presidencial devia ser feita pelo Congresso. E’ mais lógico e mais consentâneo com o nosso estado de paiz em que o analphabetismo attinge a msi de 80 por cento...
Mas se pudéssemos ser ouvidos iríamos directamente ao fim, propondo que na projectada revisão da Constituição se incluísse a eleição indirecta do presidente da Republica.
Poupava-se muito trabalho, muita despeza, e dava-se por bem e abertamente ao Congresso aquillo que elle faz hypocritamente, saltando por cima de todos os obstáculos e eximindo-se á responsabilidade que lhe devia caber...”.
 
 
Em relação aos índios, temos um concurso de contos promovido por uma empresa fabricante de um tingidor de roupas chamado Tintol. Neste concurso, o candidato deve  registrar/contar uma história sobre as origens do produto. Um dos contos recebidos é publicado juntamente com uma imagem relacionada à história (abaixo). Neste, o autor estabelece uma relação entre a eficácia e qualidade do produto e a sabedoria tradicional dos índios: os indígenas brasileiros são especialistas na obtenção de cores vivas extraídas diretamente de elementos da natureza; o Tintol, o produto financiador do concurso, também faz o mesmo, só que de forma artificial.
 
O Malho, 19/01/1924. Acervo Biblioteca Nacional.
 
 
Segue abaixo, a reprodução do conto que concorria ao concurso do Tintol.


O TROPHEU DOS NHAMBIQUARAS



O trecho da carta que vae ler, revela-nos a extraordinária intelligencia dos nossos índios.

Meu caro Jorge – Não me causou surpresa tua pergunta. Já sabia que aquelle capacete de bugre, encerrado no meu custoso relicário, ia aguçar-te a curiosidade. Lastimei não me encontrares em casa, pois teria explicado o que te pareceu tão mysterioso. Deves te recordar da missão que há 23 annos me levou aos sertões de Matto Grosso, não é exato ? Pois, data dahi a desventura de ter tido como prisioneira a formosa Yara, filha do cacique Tapyr, cuja tribu puzemos em debandada depois de um sangrento combate. Digo desventura, porque essa índia, com sua simplicidade e extraordinária beleza, despertou de tal maneira meus sentimentos afectivos, que já o meu medico descobriu nisso a causa de todos os meus males...

Deixei-a nas selvas com o firme propósito de tornar e trazel-a - quem sabe? – para minha esposa. Voltei, porem, nunca mais pude encontral-a !

Passemos, entretanto, meu bom amigo, ao que me valeu o tropheu que admiraste. Para conseguir a paz com os selvicolas, mandei Yara em liberdade, depois de havel-a tratado com carinho e maximo respeito.

Dois dias depois recebia um enviado de seu pae, convidando-me a ir receber dele e de toda a tribu, a paga da sua gratidão por lhes ter restituído sã e salva a linda “princeza”.

Tinha portanto vingado o meu plano e no dia aprazado la estava com meus homens, em meio de enthusiastica manifestação de regosijo. Na madrugada esplendida daquella noite, que seguiu toda de festa, ao partirmos, Yara, ante toda a tribu,confessava-me o seu amor e mimoseava-me com o cocar que viste, pedindo-me, para felicidade sua, eu “ficasse!”. Quer saber agora o meu amigo o que me disse essa adorável índia ao entregar-me esse penacho? Eil-o: “Meu amigo, filho de outras terras! És bom porque poupaste a vida à tua prisioneira indefesa e por Tupã, a quem adoro, eu te agradeço. Deves partir e não tenho direito de reter-te, embora te queira para mim sosinha. Levas o coração da tua Yara e com elle quero que leves também este cocar, que é o symbolo da nossa raça, porque nas cores destas penas está toda nossa Pátria: o verde é a nossa matta, que da sombra; o amarelo nosso sol, que dá vida; o encarnado o fogo sagrado de Anhangá; o azul é o céu que cobre a nossa terra e o preto a nossa noite silenciosa.... Pertenceu este cocar aos nossos antepassados e estas cores nunca se alteraram, assim como não se alteraram as tradições dos Nhambiquaras! Adeus! Vae. Vae e dize ao teu povo que a belleza e segurança destas cores, assim como de todas a demais que existem neste mundo, só podem ser obtidas por dois modos: da Natureza, como o foram, na viva coloração destas pennas, arrancadas ás mais bellas aves do Brasil; e do Tintol, o maravilhoso producto dos Srs. M. Gonçalves & C., a cujo esforço devem as moças da cidade o brilho e o colorido das suas vestes encantadoras.” - Antonio




Mesmo sendo uma história imaginada, podemos perceber elementos presentes no imaginário nacional a respeito dos indígenas e a permanência de alguns aspectos do romantismo: a entrada dos desbravadores pelo sertão, suas relações conflituosas com os habitantes nativos e logo depois, a conquista da confiança por parte dos índios em relação aos estrangeiros e a história de amor entre o branco e a bela índia.

domingo, 7 de julho de 2013

O Malho (1923)

Arthur Bernardes assume a presidência da República em Novembro de 1922. Sua eleição dividiu o país: enquanto o Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro apoiavam sua candidatura, os demais estados apoiavam Nilo Peçanha. O descontentamento com a sua vitória, associada com a insatisfação com o governo de seu antecessor, Epitácio Pessoa, foram algumas das causas do chamado movimento tenentista, que teve seu início em 1918 com o chamado Levante do Forte de Copacabana, e durou durante todo seu governo. A fim de minimizar a instabilidade política, o presidente cumpriu seu mandato de quatro anos sob "estado de sítio".

Em 1923, enfrenta um movimento no Rio Grande do Sul que exige a renúncia de Borges de Medeiros do governo do Estado. A campanha eleitoral no estado foi marcada pela divisão entre os que apoiavam a candidatura de Borges - os borgistas - e aqueles que apoiavam o candidato Assis Brasil - os assisistas -, e pela violência e repressão aos opositores do governo. Quando se anuncia o resultado das urnas, com a previsível vitória de Borges de Medeiros, a revolta foi geral. A comissão apuradora dos votos foi acusada de fraude eleitoral pela oposição e a disputa nas urnas transformou-se em disputa pelas armas, liderada por Assis Brasil.

A revista dá grande destaque ao movimento com um grande número de fotos das forças militares do governo e dos revoltosos. Em 26/05/1923 (edição nº 1.080), a revista dá início a várias sessões de fotos sobre o movimento com o seguinte texto:
 
 
Os lamentáveis acontecimentos que se desenrolam no Rio Grande do Sul tem despertado fortemente a attenção publica.
A opposição ao governo do Estado chegou ás ultimas conseqüências, abrindo luta armada, que demasiadamente se vae prolongando, com grave prejuízo para os interesses economicos da operosa terra gaúcha.
Todos lamentam esse estado de cousas e fazem votos pra que o emissário do Sr. Presidente da Republica tenha conseguido ajustar as bases de um accordo que evite mais derramamento de sangue, e dentro do qual se possa fazer a paz immediata no solo dos pampas.
E’ esse o maior anceio de todos os brasileiros patriotas.
Nada se adianta com essas luctas de ferro e fogo, entre irmãos. Ellas só servem para cavar ódios e suggerir represálias absolutamente incompatíveis com a harmonia que deve reinar entre todos aquelles que vivem e trabalham sob a protecção do Cruzeiro do Sul.
Damos neste página e na seguinte algumas photographias relativas ás forças do governo do Rio Grande do Sul e ás da opposição, remettidas da importante cidade de Bagé.”




O Malho, 26/05/1923. Acervo Biblioteca Nacional
 
 
Ainda em 1923, a revista dá destaque à Exposição do Centenário expondo em detalhes os pavilhões dos países estrangeiros e também os pavilhões das empresas nacionais. Apresenta também relatos das visitações do final de semana, com fotos de personalidades da sociedade carioca e políticos que visitaram a Exposição.


O Malho, 26/05/1923. Acervo Biblioteca Nacional.


Marca registrada da revista é o humor. Várias charges representam de maneira irônica não apenas acontecimentos políticos, mas também acontecimentos corriqueiros e casos da administração pública. Um exemplo é a charge abaixo, onde O Malho faz menção ao pedido de demissão feito pelo médico sanitarista Carlos Chagas, então chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública, ao presidente da República, que o recusou várias vezes.


O Malho, 24/02/1923. Acervo Biblioteca Nacional
 
A revista também faz, durante várias edições,  críticas ao governo em relação ao analfabetismo da população. Falta de escolas ou precariedade das mesmas, falta de professores e baixos salários destes profissionais são temas constantes nos artigos e colunas. O Malho chega até mesmo a cobrar uma posição da Academia Brasileira de Letras em relação a este fato.
 
 
Podemos ver esta cobrança através da charge A INFÂNCIA ANALPHABETA, de autoria de  J.Carlos. Nesta, a Academia  Brasileira de Letras é uma mulher vestida com o fardão tradicional e segura um livro chamado SONETOS. Ela está cercada por várias crianças. O personagem Cardoso lhe questiona: “Por que é que a senhora não amamenta essas crianças?”, colocando em xeque o papel da instituição e a chamand-a à responsabilidade em relação ao assunto.


 
O Malho, 16/06/1923. Acervo Biblioteca Nacional.


Uma observação: o personagem Cardoso é uma figura nova que apareceu nesta fase da revista. Me parece que representa assim como o Jeca, o povo, o homem simples. Só que ao contrário do Jeca, que está relacionado ao homem do campo – “o caipira” –, o Cardoso tem características mais urbanas tanto no modo de vestir e também na forma de falar.


Um outro ponto de destaque na revista é a Conferência de Santiago onde o Brasil, juntamente com outros países latino-americanos, discute um projeto de desarmamento. Os conflitos com a Argentina, que não aceita nenhum tipo de acordo neste sentido, e os boatos de que o Brasil estaria comprando armamentos dos EUA enchem as páginas da revista de artigos e charges.


 
O Malho, 28/04/1923. Acervo Biblioteca Nacional



Sobre esse tema, a revista apresenta algumas charges onde novamente o Brasil é representado por um índio (como a imagem acima). Mas em duas charges relativas ao tema, o Brasil não é representado por um índio, mas sim por um rapaz jovem, de camisa estrelada, calças compridas e botas. O autor das duas charges é o cartunista LUIZ (abaixo, uma destas charges). 


 
O Malho, 28/08/1923. Acervo Biblioteca Nacional.

 
Este fato remete a uma discussão citada por Herman Lima sobre a escolha de um tipo caricatural representativo do Brasil. Segundo o autor, o cartunista J.Carlos propunha “um adolescente com linhas gerais de um guarani “daqueles que outrora habitavam a Terra de Santa Cruz, não de tanga e de cocar, mas vestido civilizadamente”, com um chapéu desabado adornado com duas longas penas verde e amarelo recordando o berço nativo, blusa azul em cujo peito se estendia o Cruzeiro do Sul, botas altas e calças bombachas.” Raul preferia o índio “armado em guerra, criado por Ângelo Agostini; era um símbolo decorativo, imponente. Longos anos os jornais adotaram o tipo do  índio varonil para representar nossa terra. Depois surgiu uma cócega de reação, invocando os tipos de outras nações como exemplo. Engano manifesto. Não vejo nos cocares e tangapemas de nossos ancestrais o sinal de retrocesso e primitividade. Tais atavios são, como devem ser em todas as idades, decorativos apenas, e o tipo de índio, histórica e legitimamente, é o molde brasileiro por excelência” (História da Caricatura no Brasil, vol.1, pág.27).
 
 
Mas, o que podemos verificar é que na maioria das vezes em que se faz necessário representar o Brasil, ainda prevalece o modelo do índio. No caso de J.Carlos, na maioria das suas charges o Brasil é o índio tradicional.

 
O Malho, 05/05/1923. Acervo Biblioteca Nacional.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O Malho (1922)

Um dos destaques da revista são as revoltas militares que acontecem no país em decorrência da vitória de Arthur Bernardes para a presidência. Estas revoltas são apresentadas pelo O Malho como desordeiras e ações isoladas de dissidentes e militares insubordinados. Por sua vez, as atitudes tomadas pelo presidente Epitácio Pessoa para contê-las - o fechamento do Clube Militar e a prisão do marechal Hermes da Fonseca - são vistas como corretas e como demonstração de controle da ordem por parte do presidente. 

Num momento em que o país se prepara para comemorar 100 anos de independência, esses movimentos são vistos pela revista como anti-patriotas e que só servem para comprometer a estabilidade política que o país necessita para resolver sua crise econômica e financeira. Mas não há por parte da revista grandes destaques sobre esses movimentos, como por exemplo, reportagens com fotos. As notícias e informações a respeito são apresentadas apenas em forma de artigos, editoriais e nas colunas políticas.

O grande destaque do ano de 1922 é o Centenário da Independência e a Exposição do Centenário. Durante todas as edições há informações sobre o andamento das obras dos pavilhões internacionais e dos pavilhões das empresas nacionais. As comemorações do dia 7 de Setembro no Rio de Janeiro também são destaque pois, além do desfile militar e das comemorações tradicionais, é o dia da inauguração da Exposição. Também há destaque para a comemoração do Centenário em outros Estados brasileiros.
A inauguração da Exposição é descrita com detalhes e também com muitas fotos. Depois do discurso do presidente inaugurando a Exposição, houve a autorização por parte deste da gratuidade da visitação aos pavilhões. Enquanto que alguns pavilhões já estavam totalmente prontos para a exposição, alguns estavam em fase final de construção e outros ainda levariam bastante tempo para serem concluídos.
 
 
O Malho, 09/09/1922. Acervo Biblioteca Nacional
 

No dia 13/09/1922 (edição nº 1.044), na coluna Notas da Semana, a revista expõe suas impressões a respeito da importância da exposição para o país.
 
 
Dentre as comemorações civis do Centenário teve um destaque sem par a inauguração da Exposição.
Do que é, ou melhor, do que vae ser esse certamen internacional póde-se ter uma idéia pelo qual já está prompto. Num esforço colossal, cuja gloria cabe ao governador da cidade, conquistou-se á Guanabara o alargamento da Avenida Wilson e derrubou-se boa parte do innominavel bairro da Misericórdia, para se fazer surgir em todo esse terreno um conjunto suprehendente de palácios e pavilhões , que, uma vez concluídos com todos os seus detalhes fará a maior honra á nossa engenharia civil. E não se trata de construções ligeiras. A maioria do que está ali existe é para ficar: é para fazer parte do novo bairro – que o arrasamento do Morro do Castelo ampliará até o coração da cidade.
Sem falar nos pavilhões estrangeiros, quasi todos muito notáveis, temos o Palácio das Festas que é verdadeiramente grandioso, e o Palácio das Industrias, que é um assombro de transformação e aproveitamento do velho Arsenal de Guerra – obra que, sem favor, se pode chamar genial. Todo aquelle antigo aspecto sinistro da penitenciaria e convento, parece-nos agora numa feição architetonica severa, mas risonha, relembrando a origem colonial, mas com requintes de arte, que se torna encantadora. E a Torre das Jóias corôa essa obra de maneira deslumbrante.
Dentro de algumas semanas, quando tudo estiver concluído e nos seus logares, veremos confirmado o juízo que alguém já externou de ser a Exposição do Centenário e mais bella desses últimos tempos. E será também o attestado mais evidente do nosso arrojo e da nossa capacidade de trabalho, subordinada aos dictames da arte.”

Somente uma imagem de índio foi encontrada na revista durante todo o ano de 1922. Comemorando a centenário da independência do país, O Malho utiliza em sua capa a imagem do índio para representar o Brasil.

O Malho, 16/09/1922 (Acervo Biblioteca Nacional)

O Malho (1921)

A revista durante todo o ano dá ênfase à crise econômica vivida pelo país. Aumento nos preços dos produtos alimentícios, da passagem dos bondes, dos aluguéis, entre outros, são temas constantes das colunas e das charges. O presidente Epitácio Pessoa é alvo constante de críticas e o seu pacote de medidas a fim de resolver a crise econômica, que contou com o apoio de alguns ministros, deputados e senadores, é encarado por O Malho como medidas sem nenhum efeito prático. 
O  Editorial publicado em 02 de Julho de 1921 (edição nº 981) nos dá uma idéia de como a ação do presidente foi entendida pelo periódico ao mesmo tempo em que nos possibilita conhecer as práticas políticas do período:

O fantasma da crise

"O presidente da Republica, na semana passada, reuniu os ministros para discutir e assentar medidas capazes de remediar a tremenda crise econômica e financeira que assoberba o pais.
Foi uma reunião de pouco mais de duas horas, de cujo resumo, do que nella se passou, os jornaes, no dia seguinte, deram uma informação lacônica, mas, em todo caso, comprehensivel. O governo resolveu suspender as obras que não dependam de contracto, encomendas, compras em commissão,etc. consideradas adiáveis;suggerir ao Congresso a necessidade immediata de se taxar, com impostos muito mais elevados, todos os artigos que possam ser classificados como de luxo e pedir aos governadores dos Estados que recommendem e amparem no maximo possível, a exportação de todos os productos nacionais. Feito isso, o Presidente da Republica ficou de tomar iniciativas de caráter urgente, mas que ainda não podem ser divulgadas em virtude da carência de instrução ministerial.
Ora, quando se diz aqui que o Presidente da Republica reuniu os seus secretários para discutir e ascentar medidas, entende-se, por euphemismo, que houve uma conferencia. No fundo, porem, a phrase é exagerada, porque S.Ex. exerce accentuado presidencialismo que dispensa qualquer alvitre lembrado pelos ministros. Se providencias houve e vão ser dadas, ellas são exclusivamente do presidente, que dellas aceita a inteira e inalienável responsabilidade.
Toda gente sabe que com o governo nenhuma obra sem contracto firmado tem grande importância. Todas ellas são obras de pequena significação, cujo prosseguimento ou não, em nada affectaria as possibilidades do Thesouro. As grandes, aquellas que estão a esgotar os recursos da nação, e que estão canalisando o ouro brasileiro para a Europa e para a América do Norte, essas sim, é que deveriam ser paradas, porque a arrecadação das rendas que o contribuinte esfollado entrega ao erário publico não chega mais para custea-las. As formidáveis e devairadas construções dos quartéis ahi pelo interior, emprehendimentos nababescos que tanto maravilham o Sr. Pandiá Calogeras , a ponto desse grego benemérito dizer, com sua philaucia costumada, que o anno é de realizações, estão pesando normemente nos cofres depauperados do Thesouro. As obras dos portos, pelo regimem adoptado, onde só o do Maranhão anda ahi pelas alturas de trinta mil contos, cambio do dia, valem pelo mais penoso sacrifício. O nordeste, todo elle uma immensa zona suppliciada pela calamidade das secas periódicas, ainda está em começo dos gigantescos trabalhos que terão de combater a canícula e já se acha transformada num majestoso rio de Pactolo, de curso maior que o Volga e mais volumoso que o Amazonas, onde centenas e centenas de milhares de contos terão que correr.
Não houve concorrência publica para os serviços, mas os estrangeiros, que tomaram conta das iniciativas, estão atacando-os com um patriotismo delirante, um esforço tão abnegado, que a opinião lê as noticias mergulhada na mais triste das aprehensões. A construção do dique da Ilha das Cobras e outras reformas materiais projectadas para a Marinha também não serão adiadas, o que dá a entender que, mesmo suspensas as obras que o governo pensa, o terrível problema da crise econômica e financeira da Republica, crise que não martyrisa só a população pobre do Brasil, mas que afflige todas as suas classes, do operário ao banqueiro, não esta nem armada em equação, quanto mais com a sua solução garantida.
Ou nos enganamos muito, ou sua primeira medida é um palliativo para distrahir o povo flagellado de norte a sul.
A medida referente à elevação dos impostos sobre todas as mercadorias importadas e que tenham de ser classificadas como objectos de luxo não é nenhuma novidade. Os paizes da Europa, que estiveram em guerra desde 1914 que a adoptaram, com ella se tendo dado perfeitamente. Aqui, seis annos mais tarde, verificado que a lutta entre os alliados e os impérios centraes não nos trouxe a vantagem de um real, é que nos lembramos de insinuar essa aggravação à Câmara e ao Senado. Parece incrivel!
Os deputados e os senadores são, na sua maioria, cavalheiros bem instalados na vida. Recebem três contos de reis mensaes, afora ajuda de custo. Têm negócios nos Ministérios, na Prefeitura e no Lloyd. Podem, perfeitamente, sem o menor sacrifício, comprar tudo quanto é objecto de luxo que lhes apeteça, para si e para os seus. Não serão elles habituados ás pedras preciosas, ás sedas, aos perfumes raros e aos bibelots mais raros ainda, que irão privar-se de tanto prazer, de tanto conforto e de tanto requinte, so pelo gosto de com isso contribuírem para alliviar o paiz das desgraças que o estão levando á ruína definitiva com o cambio a 4 e o pânico generalisado no commercio, na industria e na lavoura.
Tamanho ônus, os legisladores não imporão a elles mesmos. Suba o preço do feijão e da carne secca, escasseim e desapareçam as habitações da probreza. Que tem isso? Os deputados e senadores não se alimentam dessas comidas e moram em bons hotéis e casas melhores...
A recommendação dos governadores para que a produção nos Estados se intensifique não chega a ser uma providencia; é um fantasia. Os governadores estão muito occupados com a política, cada vez mais escura e confusa, e não irão perder tempo com esse enorme trabalho de amparar e animar os productores, quasi todos elles alheios ás contigencias da vida partidária. O que elles querem é mether mais fundo o dente do fisco em cima dos contribuintes, para terem os recursos indispensáveis ás satisfações de seus caprichos e vaidades.
Esta é que é a verdade, nua e crua, na simplicidade dos factos, como elles se apresentam. A reunião ministerial podia deixar de se ter realisado, mesmo porque não é com este ou aquelle golpe brusco, num abrir e fechar de olhos , que se resolve uma crise pavorosa, conseqüência de erros e desatres accumulados durante dezenas de anos."

Em relação a este fato, a revista publica uma charge de autoria do cartunista Nelson. Nesta charge como em tantas outras apresentadas na revista, o Brasil é representado por um índio. Um índio esquelético e doente, pois é assim que o país é visto devido à crise financeira.

Neste mesmo ano, enquanto o governo indica Arthur Bernardes para a sucessão presidencial, em conformidade com o tradicional domínio de Minas Gerais e São Paulo no cenário político federal, representantes de outros Estados formam uma outra chapa – a Reação Republicana – que lança a candidatura de Nilo Peçanha. A revista se refere à Reação Republicana como o Partido da Dissidência e os artigos e charges fazem chacota à pretensão de seu candidato, já dando como certa a impossibilidade do mesmo em vencer as eleições. As viagens e comícios feitos por Nilo Peçanha por todo o país também são registradas com escárnio, tornando-se temas de várias charges. A revista ressalta várias vezes seu respeito pelo ex-presidente, mas considera que o mesmo não possui competência para administrar o país, pois é um homem apenas de retórica e não de ações efetivas.


Um outro tema que toma conta de várias edições da revista durante o ano é a demolição do Morro do Castelo e os preparativos para a Exposição do Centenário que ocorrerá no ano seguinte. Em relação à Exposição, a revista se divide entre elogiar a iniciativa e em ressaltar a importância do evento como uma forma de apresentar um Brasil moderno e civilizado para a comunidade internacional e em preocupações de ordem prática, como a ausência de bons hotéis para hospedar os visitantes, a deficiência dos transportes públicos – essencial para a locomoção dos visitantes – e a escassez de gêneros alimentícios, o que acabaria provocando uma alta dos preços dos mesmos (num momento em que estes já são considerados caríssimos).

Em relação ao desmonte do Morro do Castelo, a revista apresenta várias reportagens, inclusive com fotos, procurando demonstrar a incompatibilidade entre este e a modernidade e civilização. Argumentos de preservação do passado colonial utilizados contra a demolição do morro são rebatidos pela revista com a utilização de fotos dos casebres existentes ali. Aquelas “construções pitorescas” não são o tipo de lembrança do passado que um país moderno e civilizado deve resguardar.

A estética do local, que é um dos primeiros pontos avistados pelos estrangeiros ao entrar na Baía de Guanabara, deve seguir o exemplo das outras áreas da cidade já remodeladas. Assim, sob o argumento da estética, da higiene e até mesmo do lucro obtido pela prefeitura com a venda dos terrenos - que cobririam as despesas da demolição -, a revista coloca seu ponto de vista sobre o desmonte do Morro do Castelo.

Uma pequena nota publicada na coluna Notas da Semana (edição nº 983 – 16/07/1921), faz um comentário sobre como a situação dos moradores do Morro do Castelo é tratada pelo poder público.


“O projecto da lei do inquilinato, ainda nas encolhas legislativas, teve agora uma interessante sessão no Senado, illustrada ao sabor popular, pela palavra de alguns próceres. Um d’elles verberou ‘a praga das levas e a infame industria de cartas de fiança – os dois cancros da nossa sociedade que devem ser abolidos’.E opinou seguidamente: ‘Devemos cuidar da nossa população e não dos forasteiros para o Centanário, ricaços que bancam o principado’.
Outro senador, apanhando a ‘deixa’, perguntou para onde iriam os artistas e operários que habitam o Morro do Castelo, em demolição. E condemnou a inércia deshumana da Prefeitura, que não providencia sobre a construção de tectos para abrigo de centenas de famílias.
Palavras perdidas, essas dos dois senadores e de todos quantos se interessarem pelo assumpto. Ninguém, lá pelas alturas, quer saber d’estas causas tristes. Que se arranjem, cá por baixo, como entenderem!
Os poderes públicos precisam demolir o Morro do Castelo, para aterrar um trecho urbano da Bahia de Guanabara, a fim de se conquistar terreno para a Exposição do Centenário, numa cidade que tem área para dez cidades do mesmo numero de habitantes. Com esta idéia fixa, os poderes públicos esperam que os senadores, a lei do inquilinato e as idéias humanistas se fomentem!”

Em relação às representações de índios na revista durante o ano, por duas vezes o índio é a representação do Brasil. Em uma das charges, além do Brasil, um índio também representa o Paraguai. Nesta, se comenta o estreitamento dos laços de amizade entre os dois países, mas não há nenhuma coluna ou artigo da revista faça referência concreta a este assunto. Não há também possibilidades de uma interpretação a respeito da utilização da imagem de um índio para representar o Paraguai, pois é a primeira vez que encontro referência a este país em uma charge. No caso desta, pode ser que a imagem esteja relacionada à relação de amizade entre dois indígenas de “tribos” amigas.

Um outro destaque é a reportagem sobre o ataque sofrido por dois funcionários da Comissão Rondon por uma tribo indígena. A cena que representa o acontecido, mostra os índios em estado de fúria e os funcionários como homens sendo atacados covardemente, sem nenhuma condição de reação ou defesa. Mesmo relatando os prováveis motivos do ataque, as descrições das condições dos corpos dos funcionários em seus mínimos detalhes, contribuem para a construção de uma imagem bárbara e brutal dos índios.

Mesmo sendo já catequizados e acostumados com o contato com os homens brancos e civilizados, como afirma a reportagem, a essência primitiva e bárbara ainda está presente, como se fosse um instinto. É como se fossem animais selvagens, que mesmo domesticados, guardam dentro de si seus instintos naturais e que em algum momento vem à tona. E de uma certa forma, reforça a ideia dos perigos representados por estes grupos para quem se aventura pelo “sertão”, principalmente para os destemidos e corajosos integrantes da Comissão Rondon.

O Malho (1915-1920)

ANO - 1915
 
O tema da 1ª Guerra ocupa as páginas da revista durante todo o ano, seja através das charges, reportagens ou editoriais. Os reflexos da mesma nas relações entre os países envolvidos diretamente no conflito, as consequências econômicas e as pressões para que os países ainda neutros tomem uma posição se apresentam como os principais focos de discussão.
 
Especialmente neste ano, a notícia da entrada da Itália na guerra é destaque na revista. Outro ponto discutido diz respeito às negociações internacionais para que os países que não estão envolvidos diretamente na guerra, principalmente os países da América Latina, se posicionem a favor dos Aliados rompendo relações econômicas e diplomáticas com a Alemanha.
 
Internamente, a crise econômica vivida pelo país e as pressões dos países europeus em cobrar do Brasil dívidas que ainda estavam longe de vencer são motivos de críticas por parte da revista. Politicamente, o país enfrenta conflitos como a Guerra do Contestado, que é entendida pelos chargistas e editores como uma guerra motivada por ambições pessoais dos governadores dos Estados envolvidos. E no Ceará, o movimento em Juazeiro é bastante criticado pelos editoriais e charges. Este episódio é visto como um movimento de fanáticos religiosos que estão sendo manipulados por grupos políticos, que possuem interesses que levam a desordem e a insegurança para a região.
 
Em relação aos índios, é constante a utilização de sua imagem para representar o Brasil nas charges. Mas eles também aparecem como representações de alguns estados como o Ceará (a índia Iracema), Pará e também o Estado do Mato Grosso. Neste ano, temos duas fotos de índios enviadas para a revista por viajantes. Uma apresenta um grupo de índios habitantes do Rio Juruá, e o texto que acompanha a foto os identifica como índios já bastante inseridos no mundo dos brancos.
 
IMAGENS DE ÍNDIOS
Representação do Brasil (índio “tradicional”) – 7 imagens
Representação do Brasil (índio vestido ) – 8 imagens
Representação de Estados da Federação – 3 imagens
Índios no Carnaval (fantasias) – 1 imagem



ANO - 1916

A Guerra do Contestado ainda é tema na revista durante o ano. Além deste conflito, a revista aponta para outras disputas estaduais em relação à delimitação de territórios e definição de fronteiras com os estados vizinhos. A crise econômica vivida pelo país também é frequente, além das críticas feitas às práticas políticas vigentes.
 
Um outro tema que ocupa várias edições da revista é a discussão a respeito da posição do Brasil em relação à 1ª Guerra. No Senado e na Câmara, políticos defendem suas posições a favor ou contra o abandono do Brasil da sua posição de neutralidade. Alguns chegam a defender que além de abandonar a posição de neutralidade, o Brasil deveria se envolver diretamente no conflito enviando tropas para a Europa.
 
IMAGENS DE ÍNDIOS
Representação do Brasil (índio “tradicional”) – 9 imagens
Imagens de índios – 1 imagem
Pessoa fantasiada de índio – 1 imagem

 
 
ANO - 1917
 
Um assunto bastante discutido pela revista é o Tratado de Arbitramento assinado entre o Brasil e o Uruguai, que tratava da questão dos limites entre os dois países. A revista é bastante crítica em relação ao tratado e em relação ao papel do Ministro das Relações Exteriores, Lauro Muller, que diversas vezes tem seu trabalho comparado com o do Barão do Rio Branco, considerado pela revista um verdadeiro diplomata e negociador que conseguiu tratados internacionais vantajosos para o Brasil.
 
A economia, desta vez afetada pelo bloqueio alemão e inglês aos produtos brasileiros e pela proibição de importação do trigo brasileiro pela Argentina, é novamente tema de charges e editoriais. Neste caso, a revista critica muito a relação que o Brasil vem estabelecendo com a Argentina, onde os brasileiros sempre agem como amigos enquanto o país vizinho não tem nenhuma consideração com o Brasil, sempre promovendo ações que beneficiam seus interesses e prejudicando o país.
 
Durante vários meses, a revista dá destaque à pressão exercida pelos EUA para que os países latino-americanos saiam da sua situação de neutralidade em relação à guerra e rompam relações diplomáticas com a Alemanha. O Brasil muda de posição em relação à guerra, rompendo relações diplomáticas com a Alemanha com a substituição de Lauro Muller por Nilo Peçanha no Ministério das Relações Exteriores. As relações entre os dois países se estreitam e a revista coloca a aproximação entre Brasil e EUA como algo positivo. Coloca também o Brasil como pioneiro na luta pela civilização e como modelo a ser seguido pelos outros países latino-americanos.
 
IMAGENS DE ÍNDIOS
Representação do Brasil (índio “tradicional”) – 2 imagens
Representação do Brasil (índio vestido) –16 imagens
Fotos de índios – 1 imagem
Imagens de índios – 1 imagem



ANOS - 1918, 1919 e 1920


O ano de 1818 é marcado pelo fim da Guerra. As charges e editoriais fazem críticas à Alemanha, dando ênfase às suas ações e classificando-as como incivilizadas e contrárias à paz e ao progresso mundial.


Em 1919, podemos dizer que a revista começa a questionar as relações estabelecidas entre Brasil e EUA. Se antes a revista se mostrava favorável a estas relações, agora se mostra reticente e vê os EUA como uma ameaça à soberania do país.

 

Em 1920, o grande destaque à intervenção do governo federal na Bahia. Após as eleições locais, surgiram denúncias de fraudes e não aceitação do governo eleito por parte da oposição. As disputas chegam à luta armada e a intervenção do governo na Bahia, sufocando a oposição através do enfrentamento militar, o que foi muito criticado pela revista. Mesmo agindo dentro da legalidade, a revista vê a ação do governo federal como ilegítima, pois considera pertinentes as reivindicações da oposição e defende que o governo agiu a fim de apoiar e dar garantias ao governo da situação.


IMAGENS - 1918

Representação do Brasil (índio “tradicional”) – 1 imagem
Imagens de índios - 1 imagem
Representação de Estados da Federação – 2 imagens


IMAGENS - 1919
Representação do Brasil (índio “tradicional”) – 1 imagem
Representação do Brasil (índio vestido) –1 imagem
Imagens de índios - 2 imagem


IMAGENS – 1920
Representação do Brasil (índio “tradicional”) – 5 imagens
Personagem vestido de índio – 2 imagens
Representação de Estado da federação - 1 imagem
Imagens de índios - 2 imagens